Que horas ficou tarde para mudar? Que horas, tarde ficará, para não conseguir mais mudar?

terça-feira, março 27

Especial Rio de Janeiro parte III - No táxi, de volta pra casa.

Nesta terceira e última parte da saga no RJ, transcrevo uma conversa que tive, com um taxista, momentos após o show do Roger Waters, onde ele não sabia que estava sendo gravado. Por esse motivo, todas as informações pessoais e nomes, serão mantidos em segredo.



Estávamos falando sobre a violência no Rio e como a mídia trata sobre esses assuntos, mesmo que eles aconteçam com mais frequencia, em outros lugares do país.

O depoimento em questão, é sobre a época em que ocorreram os atentados à ônibus em meados de dezembro/janeiro.
Segue:

"Lembra daqueles atentados, que teve no final do ano? Eu parei em um posto de combustível e encontrei um amigo meu. Ele me pediu pra dar uma voltinha no carro dele porque ele tinha recém arrumado ele. Aí, eu disse "beleza, não tem problema nenhum". Aí, eu peguei a chave e saí, fui dar a volta. Deixei meu carro no posto e fui, bem tranquilo. Aí, quando eu tava chegando no posto, na esquerda tem um largo que ficam duas ou três viaturas. Aí eu to vindo alí e tal, daqui a pouco escuto um "buum, pá, pá, pá". Aí eu pensei "opa, calma aí, isso é tiro!". E eu, eu ví que tava muito perto. Eu não tinha visto da onde é que tava vindo. Aí, daqui a pouco "púm" e daqui a pouco esse vidro aqui (apontou para o do carona) "páá". Estourou na minha cara! Aí, me abaixei. Mas na hora que pegou o da frente do carro, que foram dois, eu ví dois carros passando, e me "liguei" que os tiro tavam vindo desses carros que passaram. E eu tava no meio do tiroteio. Entre a polícia que tava parada e esses dois carros. Uma (bala) pegou na frente do radiador do carro, e a outra na coluna, do lado do vidro que estorou."

Este assunto, surgiu devido a uma curiosidade minha em relação aos atentados. Ele comentou (antes da gravação começar) que este tipo de coisa, acontece como em qualquer outro lugar. E que, apesar de "tantas" balas perdidas e "tantos" atentados, ele passou apenas por esse.
No fim, perguntei do carro do amigo dele, e brincou "o carro tá pronto. Tá ótimo". Rimos, e continuamos a volta pra casa.

Passando pela Cidade de Deus, e ainda falando sobre a violência, começou a discussão do "olho por olho, dente por dente". Ou seja, roubou perde a mão, matou é morto. Assim, começou seu segundo depoimento.

"Um colega meu, matou dois... (interrompe) Aqui é a Cidade de Deus, "ó"... e aqui, já é Gardenia. Gardenia é dominada pelas milícias. Aqui não tem tráfico. Eu entro aqui, dou a volta alí dentro com vocês na maior tranquilidade do mundo, sem problema nenhum. Uma das entradas dela é aqui (apontou para a esquerda). É tudo favela, lá pra dentro. Só que "num" tem tráfico, "num" tem ladrão, "num" tem nada disso. Matou, morreu! (...) E agora, eles tão com esse "negócio" aí, que querem combater as milícias. Ué, pergunta pra alguem aí, se querem deixar de pagar 10 reais por mês. Eles cobram dos moradores pra dar proteção. Agora, 10 reais por mês, pra você entrar e sair da sua casa a hora que você quiser, você ficar sentado no barzinho até três, quatro, cinco da manhã sem ter problema nehum... Pergunta pra alguem alí se eles querem deixar de pagar.
Aqui na Barra (bairro) que é tranquilo...nesse canteiro aqui (apontou pra esquerda) dois PMs foram mortos. Passaram por aqui e atiraram neles, naquela mesma época dos atentados que eu falei..."

Puxamos o assunto, novamente, sobre o amigo dele, que havia matado dois.

"...é, matou dois vagabundo ali. Ele, é ex-polícia. Os dois caras (assaltantes) chegaram, ali perto da Cidade de Deus, botaram a arma na cabeça dele e disseram "perdeu, perdeu, dá tudo, a gente só vai levar o dinheiro, fica na moral..."
Aí o cara, meu amigo, disse "pelo amor de Deus, não me mata, eu sou trabalhador, tenho família, quer levar o carro? pode levar, mas não me mata, por favor!" Aí os caras pegaram o dinheiro, o celular e sairam. Quando eles se viraram, ele (o amigo) meteu a mão (na arma) e "práá". Aí, foi lá, pegou o dinheiro, os caras tavam com mais dinheiro e ele pegou, pegou também as armas dos caras e "deu no pé". Deixou os dois, estirados lá no chão. Ele falou, que um devia ter uns 14/15 anos e o outro uns 19. Aí, tu vai por na cadeia? O menor nem vai, e o outro, sai rapidinho. Menor vagabundo lá, dá tiro pra cima da polícia. Se eu sou polícia, dou tiro de volta. Vou ter que advinhar, quantos anos bandido tem?!"

Ele é taxista, fazem dois anos, no Rio de Janeiro. Foi assaltado, uma vez.

E agora? Será que os menores, de oito anos de idade, por exemplo, que portam armas e atiram na polícia, têm solução? Será que, "olho por olho e dente por dente" resolveria os problemas? Você sabia que Foz do Iguaçu é a cidade mais violenta do país? Que o Rio, não está nem perto das primeiras? Você continua ouvindo a mídia, sem procurar conhecer o assunto?

Essas perguntas, só você pode responder. O que você vai fazer?!

Esta entrevista é verídica. Gravada em um mp3. Nenhuma parte foi modificada ou teve seu sentido alterado.

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